Sim, é fato que quando uma criança começa a chorar as coisas que escutamos com mais frequência o adulto dizer pra ela é:
– Não chora!
– Não precisa chorar.
– Pare de chorar!
– Engole esse choro! (essa é uma das mais cruéis)
– Olha lá, fulano não está chorando.
– Você já é um mocinho, não precisa mais chorar.
– Você já está grande, não pode mais chorar.
– Você é menino, e meninos não choram.
– Que coisa mais feia, chorando!
– Chega de choro!!
Já faz um tempo que ando refletindo sobre esse assunto, acompanhando mães e pais, educadores, me observando também como mãe, mulher e ser humano, e hoje quero compartilhar algumas das reflexões aqui com vocês que a educação transpessoal traz para esse tema tão rico e complexo que é a educação emocional.
Um dos desafios mais frequentes que acompanho no Caminho da Parentalidade Consciente é a questão de como lidar com o comportamento e emoções dos filhos.
Bem, primeiramente gostaria de saber com sinceridade se você acha saudável e legal esse tipo de reação como as frases colocadas acima, se você realmente acredita que esse tipo de comportamento pode contribuir de uma forma positiva para a construção da inteligência emocional do seu filho. E também quero saber se isso tem funcionado pra vocês. Porque geralmente o que acontece é o efeito contrário, a criança fica com tanto medo de se expressar que acaba engolindo e bloqueando suas emoções, e quando explode… sai de baixo!! (sim, um dia ela precisa liberar tudo isso).
A pergunta: Você acredita que bloquear expressões e emoções de uma criança é algo positivo?
Depois de pensar e responder a essa pergunta seguimos ao próximo passo…
Agora vamos nos aprofundar um pouquinho e tentar entender primeiro porque o adulto fica tão sem chão com o choro da criança, e segundo, vamos falar sobre a importância da educação emocional na construção da estrutura dessa criança, e o mais importante: como nós adultos podemos lidar com tudo isso de uma maneira mais saudável e positiva.
IMPORTANTE: aqui no texto coloquei a expressão do choro mas vale para qualquer expressão de emoção da criança como raiva, tristeza, frustração, negação, contração.
Primeira questão: o problema do adulto com o choro da criança.
Bem, essa frase já diz tudo: o problema com o choro é muito mais do adulto do que da criança.
Só aí já vale uma boa autoreflexão não é mesmo?
Porque como já estamos carecas de saber, o choro é uma das mais importantes formas de expressão da criança. A mais natural, a mais espontânea, a mais fluida. Isso parece tão simples e tão lógico mas na prática, quando estamos com nosso filho chorando ali na nossa frente, não parece tão simples assim não é mesmo?
Mas porque isso acontece? Porque esse incômodo e essa estranha sensação que sentimos?
Porque quando vemos nosso filho chorar acionamos emoções e sensações internas que estão ali guardadinhas, e que podem se manifestar nas mais variadas sensações como desespero, irritabilidade, raiva, tristeza, pânico, medo… é algo inconsciente que brota sem nem darmos conta. Nos conectamos com a nossa criança interior, que tem tanto a nos dizer sobre nós mesmos.
E porque isso tudo acontece? Uma das principais causas disso acontecer é porque não fomos educados a lidar com nossas emoções, somos fruto de uma educação onde era habitual o abafar das emoções, o não querer enfrentar as emoções negativas, o distrair, o bloquear, o negar, o reprimir.
Se pergunte e relembre: Como seus pais lidavam com o seu choro e com as suas emoções negativas quando você era pequeno?
Talvez você nem lembre, mas é muito provável que eles deviam falar essas mesmas frases relatadas ali acima (“não chore”, “pare de chorar”, “não precisa chorar”, “engole o choro”, etc) e você aprendeu e internalizou isso, o que é natural. Pois é, a educação e criação de filhos até pouquíssimo tempo atrás era seguida assim na base da repressão. Sem querer eleger culpados ou vítimas, o nosso papel hoje como pais e educadores é o de transmutar esse padrão de educação que já sabemos não ser o mais saudável para a construção de um mundo melhor e de crianças que serão futuros adultos seguros emocionalmente.
Quanto mais evitarmos e não encararmos nossas próprias emoções negativas de forma madura e positiva mais elas se instalam em nosso corpo e assim seguimos carregando-as, e o que acaba a ocorrer é que logo em seguida elas voltam, e voltam, e voltam, como uma montanha russa sem fim. Basta algum gatilho ser acionado, muitas vezes algo bobo, e lá vem elas… geralmente com maior intensidade.
Assim também acontece com a criança. Comece a perceber: se o seu filho abafar ou bloquear alguma emoção negativa assim que ela surgir certamente ali na frente essa emoção será extravasada, geralmente desencadeada por algo meio bobo que aconteceu, e ela vem com mais força e sem controle. Isso acontece porque quando a emoção chegou anteriormente ela foi negada e calada, o que significa que ela foi mal canalizada.
Sim, as emoções negativas podem ser bem trabalhadas e canalizadas de forma positiva, e é sobre isso que vamos falar em seguida.
Lembro que quando me deparei com meu filho chorando nos braços logo percebi o quanto tudo aquilo mexia profundamente comigo, e o quanto aquela sensação toda escondia por traz um valioso aprendizado para a minha própria evolução pessoal e amadurecimento emocional. Não, não é fácil. E sim, podemos lidar com tudo isso de uma forma mais tranquila e que ajude a todos os envolvidos.
Então da próxima vez que seu filho chorar ou expressar alguma emoção negativa primeiramente perceba em que parte de você ressoa esse choro, essa emoção.
Onde essa emoção está em você? Você sente algum desconforto físico?
Permita se entregar a esse momento de autoconhecimento e cura. Se acolha. Acolha a sua criança interior.
E lembre-se que o choro é uma das expressões mais naturais da criança, e não o contrário. Se ela chora é porque algo está acontecendo em seu pequeno grande universo.
Segunda questão: Como lidar de uma forma mais saudável e positiva com tudo isso?
Vamos falar um pouco sobre educação emocional. Bem, de nada adianta termos uma base sólida de educação intelectual para nossa vida se temos deficiência na educação emocional.
Hoje em dia o que mais vemos são adultos super bem-sucedidos em termos de profissão e carreira porém buscando um equilíbrio emocional, buscando curar feridas internas antes não cuidadas, nunca olhadas, não acolhidas. Estamos vivendo um grande momento de busca pela cura emocional, um momento de despertar interno, e as informações sobre o tema e terapias complementares estão em alta.
Por isso vamos aproveitar esse momento tão sagrado que é a infância dos nossos filhos e deixar como herança emocional uma base sólida e saudável. Porque é na primeira infância que construímos essa estrutura que levamos para a vida toda.
Vamos lá… Como lidar?
- EMPATIA
Bem, já estamos meio carecas de saber e ouvir falar sobre empatia, mas sabemos que o mais importante é praticarmos!
Empatia é a capacidade que temos de nos colocar no lugar do outro.
Vamos a um exercício bem básico…
Imagine você chorando, precisando muito debulhar aquelas lágrimas, eis que chega alguém bem próximo em quem você confia plenamente e fala: “não precisa chorar”, “pare de chorar”, “não foi nada”… Qual será sua reação? Qual será sua sensação?
Não será nada agradável, não é mesmo?
Parece tão simples praticarmos a empatia mas sabemos que é um exercício diário e precisamos estar dispostos a isso.
Quando praticamos a empatia algo mágico acontece pois empatia gera conexão, e com isso as relações se transformam de uma maneira muito enriquecedora.
Portanto da próxima vez que seu filho estiver chorando ou expressando alguma emoção negativa primeiramente se coloque no lugar dele.
Algumas perguntas que nos levam a uma maior percepção sobre o universo da criança:
Em que fase meu filho se encontra?
Quais são as necessidades principais dele nesse momento?
- PRESENÇA
Essa parte é fundamental. Estar em estado de presença com seu filho (principalmente nesses momento de extravasar das emoções).
Como isso funciona?
Muitas pessoas me perguntam o que é educar com presença, como é possível fazer isso num mundo tão corrido e sem tempo. E eu sempre repito: sim, é possível. Estar em presença é muito mais do que criar filhos, é uma prática a ser inserida em várias atividades do seu dia a dia. É qualidade de vida!
Estar em presença não quer dizer estar disponível o tempo todo e nem fazer tudo para a criança. Estar em presença é estar alinhado com o momento presente, com o que está acontecendo naquele momento. E quando falamos em criança é muito mais fácil praticarmos a presença pois a própria criança vive naturalmente nesse estado de presença, então vamos aproveitar e aprender com elas também.
Se você quer saber mais sobre presença, atenção plena e mindfulness leia essa texto aqui.
É incrível mas quando começamos a praticar a atenção plena (mindfulness) muita coisa se transforma em nossas vidas. Desde diminuição da ansiedade até a melhora na qualidade dos relacionamentos.
- ACOLHIMENTO
Como assim acolher?
Primeiramente quero deixar bem claro que acolher uma criança não significa superproteger. Acolher significa estar em presença, passar a segurança que a criança precisa no momento do transbordar emocional, principalmente se você é o principal cuidador da criança naquele momento.
Muitas vezes numa crise de choro ou de raiva a criança não vai querer ser tocada ou abraçada, e quando isso acontecer devemos respeitar essa vontade e simplesmente estar ali junto da criança. Em estado de presença.
Para acolher uma criança não é necessário utilizar muitas palavras. Na verdade geralmente é melhor nem falar muito pois os momentos de extravasar são de pura emoção, não precisam de palavras.
Porém em algumas vezes quando você sentir que é a ocasião, pode-se ajudar a criança nomeando a emoção ou o que aconteceu com ela. Se você tiver empatia e presença, certamente a conexão será estabelecida e você saberá como agir e acolher. Confie!
IMPORTANTE 2: Quero ressaltar que quando falo em choro e extravasar das emoções não estou falando em deixar a criança chorar desassistida, nem em não dar bola e importância para o choro, ao contrário, estamos falando em acolhimento, apoio, respeito, presença e empatia.
Acredito também que a coisa se agrava ainda mais quando a criança manifesta o choro e suas emoções negativas ali por volta dos 2 / 3 / 4 anos de idade, onde o adulto já não espera mais esse tipo de comportamento. Nessa fase o adulto espera que a criança “se comporte melhor” e consiga se expressar e se colocar de forma mais consciente diante de suas emoções. Mas a criança nessa idade ainda se expressa de forma bastante intuitiva, intensa e espontânea e cabe a nós, adultos, ajudar essa criança a lidar com essas emoções e comportamentos de uma forma positiva.
Por isso é tão importante o autoconhecimento por parte do adulto para saber lidar primeiramente com as suas próprias emoções, como já falamos anteriormente, e assim conseguir ser o suporte emocional para a criança. Tudo isso requer que o adulto envolvido esteja aberto a se (re)conhecer emocionalmente, num trabalho de autocompaixão. Isso é educação emocional!
Bem, espero ter lhe ajudado de alguma forma a fortalecer sua estrutura e inteligência emocional.
E se esse texto fez sentido pra você, compartilhe!
E se você quer se aprofundar em educação emocional, mindfulness, linguagem da criança e muito mais, lhe convido a conhecer o programa online Segredos de Educação entre Pais e Filhos. Uma verdadeira jornada de autoconhecimento, fortalecimento emocional e da relação entre pais e filhos.
Que texto mais lindo! Me ajudou muito Rô! Obrigada por compartilhar ❤️
Que bom Tati! Estudar sobre educação transpessoal e emocional me ajuda muito também. Estamos tod@s na mesma jornada, nos fortalecendo e aprendendo a nos relacionar de forma mais saudável com nossas próprias emoções. Assim estamos ajudando nossos filhotes!!! Um beijão amiga! <3