Num encontro do Caminho da Parentalidade Consciente eu e minha querida cliente iniciamos uma conversa intensa sobre pós-parto e puerpério.
Ela, num momento muito único e especial pois estava recém saindo do puerpério do seu primeiro filho e gestando seu segundinho. Iria muito em breve adentrar novamente nesse universo tão intenso e um tanto misterioso que é o pós-parto e o puerpério.
Foi um momento bem especial de muitos insights e percepções puerperiais, onde duas mulheres mães se conectaram e falaram a mesma língua (mesmo que cada uma com seu íntimo idioma).
Conversa vai, conversa vem, chegamos à conclusão de que seria ótimo se existisse uma “pílula do puerpério”.
Como assim?
A maioria das mulheres tem uma veia bastante controladora (sem querer generalizar tá?) e que acaba acionando aquele botãozinho que tanto nos aprisiona que é o da AUTOCOBRANÇA.
Trabalhando com mulheres mães e no meu próprio processo de autoconhecimento percebo que a AUTOCONBRANÇA ainda está muito enraizada no universo feminino e materno.
Mas de onde vem isso?
Nós mulheres fomos programadas desde muito cedo para sermos boazinhas. Para sermos perfeitas. Para sermos exemplares. Para sermos controladas. Para aceitar tudo e a todos. Para agradar. Para dizer sim. Etc etc…
E o que isso tem a ver com o puerpério?
A questão é que quando estamos vivenciando o pós-parto e o puerpério adentramos em um outro universo. Num espaço interno mais forte do que nós podemos controlar (por mais controladas e controladoras que sejamos). Como se fosse um portal que nos ajuda a nos despir desses personagens todos.
É um momento onde quase visceralmente começamos a nos despir dessas cascas de autocontrole. É como se ligássemos a tecla F naturalmente. (sim essa mesma que você pensou rs)
Isso acontece em diversos momentos, desde os mais cotidianos até aqueles mais inusitados. Além de acontecer com mais profundidade em nosso interior. Muita coisa que antes fazia sentido agora já não faz mais.
Aquelas visitas que chegam no momento em que você está praticamente pelada tentando acertar a amamentação e você se permite dizer “não, agora não posso” ou não estar nem aí se tem alguém por perto. As visitas queridas que chegam e a sua casa está toda bagunçada e você nem liga. Aqueles comentários e pitacos totalmente sem noção sobre “como você deve criar seu filho” e você responde o que está a fim, sem pudores, ou simplesmente ignora e faz “cara de alface”. Aquela permissão interna de ficar de pijama e pantufas o dia todo se der vontade. Aquele choro forte que vem e você simplesmente coloca pra fora, sem ficar se reprimindo (esteja onde estiver). Aquele sorriso de gargalhar que vem logo em seguida, e você simplesmente gargalha, sem pensar muito nos porquês. Aquela cara inchada de quem chorou o dia todo (não importa o porquê) e tá tudo bem.
(me ajudem com mais situações, por favor)
Nada mais importa nesse momento. Só você e seu bebê. (e o seu sono, é claro… ou melhor, a falta dele)
Acompanhando mulheres mães se transformando de uma maneira tão forte e intensa no puerpério, e com a minha própria experiência, percebo cada vez mais que esse momento é muito único. É muito especial para a mulher.
É aquele momento em que mergulhamos sem salva vidas em nosso próprio oceano de emoções. Onde temos uma sensação de completa perda de identidade.
É uma perda de identidade que nos possibilita uma incrível (re)conexão com a nossa identidade mais essencial. Aquela que está ali, sempre esteve, mas que muitas vezes nos distanciamos sem nem mesmo perceber.
Claro que na hora nem percebemos que tudo isso está acontecendo pois estamos apenas tentando sobreviver ao tsunami.
É um momento de encontrar a ordem no caos. De perder o controle e deixar fluir. De se permitir.
É uma conexão com o aqui e agora. Pois não tem muito como fugir… Nem para onde fugir…
Quando estamos no “olho do furacão” parece que esse momento nunca vai terminar. Nunca vai passar. Que nada mais vai voltar ao “normal”.
Mas ele passa. Porém sinto lhe informar que não voltaremos mais “ao normal” porque depois dessa experiência não tem como. Já somos outras.
E essa experiência toda pode ser muito transformadora e maravilhosa. Pode deixar belos frutos para uma vida mais autêntica.
Porém na maior parte das vezes não temos tempo para vivenciar tudo o que o puerpério nos oferece. E principalmente, não temo a ajuda adequada que precisamos nesse momento.
Pois precisamos “voltar a rotina”, “voltar ao trabalho”, “voltar a ativa”, “voltar ao antigo corpo”, voltar, voltar, voltar…
Mas e quando não queremos mais voltar assim tão depressa?
Quando não conseguimos mais voltar a ser como éramos? (o que geralmente acontece)
O puerpério é uma vivência forte, intensa, profunda, dolorida, linda. Sim, tudo isso e mais um pouco. Um mix de sentimentos e emoções.
Precisamos de apoio nesse momento. Precisamos de tempo.
Precisamos de acolhimento. Precisamos de amor.
Por isso, pra essa “pílula do puerpério” fazer efeito durante o processo precisamos desse apoio. Um apoio simples que requer PRESENÇA. Empatia. Escuta atenta sem julgamentos.
Precisamos de rede de apoio, que pode se apresentar de várias maneiras. Assim como nós mulheres mães também vamos criando nossas próprias redes de apoio, pois sentimentos essa necessidade.
Confesso que com essa conversa toda me deu aquela vontade de provar novamente dessa pílula mágica chamada puerpério. Pois nela existe um ingrediente personalizado que é único para cada mulher. Para cada puerpério.
Minha pílula de puerpério veio recheada de descontrole, um descontrole bom que me levou além, que me permitiu ser eu mesma. Me reencontrar com minhas emoções mais antigas e profundas, e colocá-las pra fora. Transmutar. Sem medos, sem receios, sem pudores.
Minha pílula veio com o poder da vulnerabilidade que tanto me fortaleceu.
Bem, poderia ficar horas aqui falando sobre essa pílula mágica rsrs.
E pra você, o que veio na sua pílula de puerpério?
Meu puerpério veio cheio de impaciência, força e um desejo absurdo de romper com tudo aquilo que ao meu ver não estava legal em minha vida, família, na relação com os outros. Passei a não tolerar mais fofocas e fofoqueiros, manipulação e manipuladores. Estou bem imersa no processo ainda, Meu bebê tem quatro meses e não aceito mais futilidade nenhuma.
Uau Gabriela, quanta profundidade em suas palavras! Pelo que você conta está vivenciando um puerpério de muitas transformações e com bastante intensidade. Agradeço imensamente por você compartilhar a sua experiência aqui. Seguimos juntas e mais fortes! Um abraço afetuoso e bem apertado, Roberta
Olá, bom dia!
Sou Maria Caroline, 37 anos, enfermeira, e agora mãe do passarinho Pedro, que tem 8 meses! Meu puerpério foi, e ainda é, intenso, profundo e avassalador! Vivi uma intensa tristeza, uma dor imensa para “parir” o ser mãe…E neste caos do amor nascer as transformações, de dentro pra fora vieram a tona, com tudo! Ao olhar para trás, vejo um ciclo de meu eu fechado, e um outro, com outro formato de intensidade a se formar, a se experimentar, a viver…viver a realidade como ela é, sem estereótipos, estigmas, embalagens, críticas homericas, meias palavras ou meia verdades! Como maternar Pedro tem me dado liberdade de conhecer meu eu! Como tem!
Me encontrei muito nas palavras do texto, inclusive partilhei no Facebook.
Um abraço,
Obrigada!
Carol
Oi Maria Caroline! Nossa, quanta intensidade e transformações em seu puerpério! Me identifiquei muito com seu relato, ressoou aqui dentro da minha alma. É incrível esse poder de transformação, que antes de acontecer nem imaginamos ser possível, ainda mais nesse momento. Agradeço muito por você compartilhar sua experiência aqui, mexeu e remexeu comigo, trouxe novamente o gostinho de tudo o que vivi. Me fortaleceu! Um beijo grande